Hoje o que não falta é gente falando em ganhar dinheiro no mercado financeiro. E isso não está errado, pois o mercado financeiro é o local apropriado para investir, fazer o dinheiro crescer e aumentar o patrimônio.
Ganhar dinheiro na bolsa está relacionado a dois importantes objetos de desejo das pessoas: liberdade geográfica e liberdade financeira!
Hoje qualquer pessoa pode operar por meio de um computador ou de um celular e isso acaba gerando liberdade geográfica para o investidor. Afinal de contas, ele não precisa estar preso a um escritório para investir e fazer seu dinheiro crescer, já que ele pode fazer isso de qualquer lugar, operando de sua casa ou viajando pelo mundo.
E se os investimentos derem certo, esse investidor vai ter dinheiro suficiente para comprar o que ele quiser, que pode ser desde um simples objeto de desejo, como um carro esporte, até experiências difíceis de quantificar como viagens, segurança, conforto e tempo de qualidade com a família. Esse é o benefício gerado pela chamada liberdade financeira!
Seguramente ter esses benefícios também já deve ter passado pela sua cabeça. Afinal de contas, quem não gostaria de ganhar milhões, ter liberdade e uma "vida instagramável"?
Mas será que essa expectativa reflete a realidade? Como é realmente a vida, o dia-a-dia de quem investe no mercado financeiro? Para entender essa questão, primeiro é preciso conhecer e diferenciar trader de investidor.
Traders e investidores são tipos diferentes de participantes dos mercados financeiros com abordagens e objetivos distintos, especialmente em função do horizonte de investimento, tolerância ao risco, frequência de negociação, instrumentos de análise, conhecimentos e habilidades.
Em função destas diferenças, eles vivem vidas completamente diferentes. E para entender isso direito, vamos analisar cada um destes pontos entre traders e investidores.
Traders são operadores do mercado que buscam obter lucro com as variações de preço no mercado financeiro no curto prazo, ganhando com a compra e com a venda de ações (ou outros ativos, como criptomoedas ou minicontratos), caso acertem a tendência do movimento dos preços.
Para este grupo, o ativo que eles estão operando não importa tanto, já que eles não pensam em se tornarem acionistas (no caso das ações). Eles estão de olho no lucro que eles conseguem com a oscilação dos preços nas operações intraday (como o day trade ou o scalp trade) ou em operações com prazos um pouco maiores (como o swing trade ou o position trade).
Por não permanecerem com as ações por muito tempo, já que eles compram e vendem a ação no mesmo dia ou em poucos dias, os traders geralmente não se beneficiam de dividendos e por isso precisam operar diariamente para ter rendimentos, obtendo o que é chamado de renda ativa (o trader precisa operar para ganhar dinheiro, mas por outro lado também corre o risco de perder dinheiro).
Com relação ao risco os traders tendem a correr maiores riscos em busca de retornos superiores.
Enquanto um investidor como Warren Buffett ficou bilionário ao longo do tempo conseguindo um retorno anual pouco acima de 20% a.a., os traders podem chegar a ganhar 2%, 3%, 5%, 10% em um único dia, eventualmente até mais. Mas o outro lado da moeda é que eles também podem perder na mesma velocidade!
Não é difícil ver algum trader experiente dizendo que perdeu tudo e precisou recomeçar do zero. É admirável que admitam isso porque essa realidade serve como um alerta. Ser trader é uma vocação ligado ao risco, é um perfil muito específico e por isso não é adequado para qualquer um.
Um estudo da FGV realizado por Fernando Chague e Bruno Giovannetti em 2019 (e atualizado em 2020) revelou que mais de 99% dos trades no Brasil têm prejuízo, e esses dados incluem também os traders mais experientes.
Segundo o estudo, em um universo de 98.378 pessoas que iniciaram suas operações em day trade, apenas 127 indivíduos tiveram lucro médio acima de R$ 100 por dia, sendo que destes apenas 76 tiveram lucro médio acima de R$ 300,00 (0,08% dos traders).
O resultado é ainda mais alarmante: apenas 0,1% dos traders lucrou mais de R$ 100 por dia com day trade de ações, de maneira consistente. Indiretamente isso quer dizer que a grande maioria dos traders teve rendimento inferior a R$ 3.000 mensais. E esse resultado coloca em questão as propagandas enganosas que muitos traders no mercado digital fazem.
O resultado desta pesquisa inclusive foi comparado com os rendimentos de um motorista de aplicativo, cujos ganhos podem superar os valores conseguidos pela maioria dos traders. Isso sem contar que os autores suspeitam que parte destes investidores que tiveram sucesso podem ter operado por meios de robôs (High Frequency Trade).
Mas isso não significa que o trade seja algo ruim. Afinal de contas, tem muito trader ganhando muito dinheiro nessa área.
O que falta para a maioria dos traders é conhecimento profundo das operações, uma gestão de risco bem definida e uma estratégia para as operações. E para isso é preciso muito estudo!
Um investidor é alguém que aloca capital ou recursos financeiros em ativos financeiros, como ações, títulos, imóveis, fundos, dentre outros, com o objetivo de obter retornos financeiros ao longo do tempo. O investidor geralmente busca aumentar seu patrimônio líquido, preservar o capital ou gerar renda passiva por meio desses investimentos.
É importante destacar que existem diferentes tipos de investidores, incluindo investidores individuais, investidores institucionais (como fundos de pensão, bancos e companhias de seguros) e investidores governamentais (como fundos soberanos), sendo que cada tipo pode ter objetivos e restrições específicas que orientam seus investimentos.
Investidores individuais, por exemplo, podem ter um perfil mais arrojado do que investidores institucionais, que operam com recursos de terceiros, como é o caso dos fundos de pensão.
Por ter foco no longo prazo, é muito comum que estes investidores busquem boas empresas para investir que estejam sendo negociadas em condições adequadas, com preços descontados por exemplo. E esse processo de seleção costuma ser criterioso.
Por essa razão, não é comum que um investidor opere todos os dias. Ele monitora algumas empresas de interesse e compra a empresa certa, no momento mais adequado. E justamente por isso que o número de operações no mercado tende a ser relativamente baixo, porque não é sempre que uma boa empresa se encontra em um momento apropriado para compra.
As estratégias de investimento de longo prazo também podem variar em função dos objetivos e do perfil dos investidores.
As estratégias mais frequentes entre os investidores são o Value Investing (com foco em valor) o Growth Investing (com foco em crescimento) e o Dividend Investing (com foco em dividendos) e o Growth at Reasonable Price (que é uma mistura de estratégias).
Estas estratégias estão relacionadas ao conceito de "Buy and Hold", que é comprar uma ação e ficar com ela por tempo indeterminado enquanto ela fizer sentido ou enquanto ela mantiver seus fundamentos.
E caso ela perca seus fundamentos, o investidor pode vender a ação e buscar novas oportunidades no mercado.
Uma característica dos investidores de longo prazo é que eles buscam a renda passiva, seja por meio da valorização das ações e do patrimônio ao longo do tempo e também do pagamento dos dividendos.
No longo prazo, sob o efeito dos juros compostos, o capital investido tende a crescer como uma “bola de neve” e o pagamento de dividendos pode gerar renda passiva para o investidor. Por isso é muito comum que os investidores reinvistam seus dividendos comprando novas ações e ainda façam aportes periódicos para "ver o dinheiro crescer".
Diferentemente dos traders, que precisar operar com frequência para fazer dinheiro (renda ativa), os investidores acompanham o crescimento do seu patrimônio e recebem dividendos dos seus investimentos sem a necessidade de operar diariamente. Isso é chamado no mercado de renda passiva.
Por fim, com relação aos riscos, os investidores tendem a enfrentar riscos diferentes dos traders.
Enquanto traders enfrentam riscos de curto prazo, como volatilidade e eventos imprevistos no mercado, os investidores enfrentam riscos associados ao longo prazo como a exposição a eventos macroeconômicos (grandes crises) e eventos externos (eventos geopolíticos ou pandemias).
Os investidores e traders operam com objetivos diferentes e por isso tem estilos de vida diferentes. E se você está começando no mercado financeiro, você precisa entender essas diferenças e identificar qual o seu perfil como investidor.
Essa é uma decisão importante porque são escolhas que vão levar a caminhos diferentes, rotinas diferentes e principalmente rotinas diferentes.
Investidores buscam resultados no longo prazo, com a valorização das ações e com o recebimento de dividendos. E para isso eles contam com o "efeito bola de neve" e com a geração de renda passiva. Neste caso os riscos são menores, porém a geração e acúmulo de riqueza pode levar mais tempo e isso demanda paciência e disciplina do investidor.
Os traders já tem preferência pelo curto prazo, em um ambiente mais dinâmico. Eles tem maior apetite pelo risco em busca de retornos superiores. No curto prazo o trader pode ganhar muito dinheiro, caso acerte a tendência, mas no longo prazo é difícil bater os resultados dos investidores. Isso nos leva a um ponto importante, que é a consistência de ganhos dos traders.
Enquanto um investidor busca bater o mercado ou superar a marca dos 20% a.a. de Warren Buffett, os traders podem conseguir bater esse retorno em uma semana. O problema é que se não houver consistência, os ganhos podem ser devolvidos ao mercado na semana seguinte.
Outro ponto importante é que, diferentemente dos investidores que têm grande parte do capital investido gerando dividendos (efeito bola de neve), o trader geralmente não investe todo seu capital por uma questão de risco, limitando os ganhos sobre o capital investido em cada operação. E por isso são realizadas várias operações diariamente (renda ativa).
Só de considerar estes pontos dá para imaginar que o dia-a-dia de um trader pode ser mais estressante, com um número maior de operações e lidando com maiores riscos.
Só para finalizar, os dois divergem também quanto as ferramentas utilizadas para operar. Enquanto o investidor de longo prazo utiliza a análise fundamentalista para embasar suas operações, o trader utiliza a análise técnica, também conhecida como análise grafista.
Ambos precisam ter conhecimento profundo de suas técnicas de investimento, o que requer muito tempo de estudo e estratégias bem definidas para evitar perdas. Então independente da sua escolha, você precisa estudar muito, adotar estratégias para evitar perdas e ter muito controle emocional.
Os riscos são altos, mas pode compensar se você se dedicar muito, conhecer os fundamentos das empresas e souber ler as tendências de mercado.
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